No dia 20 de dezembro de 2012, a pousada A Capela abriu seu portão elétrico, pesado, de madeira, pela primeira vez para receber hóspedes. Eram 20 pessoas. Ocuparam todos os oito apartamentos que tínhamos à época. Chegaram ao Pirui, praia linda da mítica Arembepe, trazidos pelo empresário baiano Xuxa, que fora contratado para produzir o evento de lançamento da pedra fundamental da planta da Jac Motors em Camaçari. Não vi nem conheci ninguém. Foi Nil Pereira, minha sócia, quem atendeu os primeiros clientes. Começou com pé direito, fazendo tudo com sua costumeira e famosa eficiência.
A Jac nunca abriu suas portas por aqui. Mudou de ideia e de Estado. Nós, felizmente, nunca mais fechamos as nossas portas. O portão pesado de madeira abre e fecha o dia todo. Às vezes, com tanta frequência que, o coitado, cansa e pifa.
São cinco anos e 1820 dias, totalizando milhares de diárias. Hoje são 17 apartamentos, que hospedaram clientes em mais de 80 casamentos realizados na frente da capela ou do mar. São mais de cinco dúzias de festas de aniversários, que fizeram com que o sentimento de alegria e prazer sempre estivesse entre novos.
Melhor do que as festas foram os novos e profundos amigos, feitos em meio à conversas na praia, no bar e no restaurante. Em cinco anos, colecionamos e vivemos histórias incríveis, incluso nelas meia dúzia de perrengues sérios, muito, muito aprendizado e um absurdo prazer solidificado na certeza de que nascemos para fazer isso. Servir é o meu maior talento.
Há cinco anos, eu e Nil éramos profissionais felizes e realizadas. Eu, em particular, não era capaz de imaginar, prever, supor, inventar o futuro que o destino me ofereceu. Não era capaz avaliar o tamanho da mudança de alma e de vida que a curva da vida me proporcionaria.
Há cinco anos, no entanto, tinha certeza de que o projeto Pousada A Capela tinha princípios e metas muito claros. Este ano, fazendo o nosso planejamento estratégico com o Sebrae, viajei no tempo para frente e para trás ao escrever:
MISSÃO: Hospedar, receber e servir com qualidade, eficiência e pessoalidade e aconchego, fazendo com que o nosso hospede sinta-se como se estivesse em casa porem cercado de mimos e pequenas mordomias.
VISÃO: Conquistar um numero sustentável de hospedes fieis que para manter uma taxa de ocupação estável que nos garanta um faturamento necessário para garantir a qualidade do nossos serviço e proporcionar uma rentabilidade estável.
VALORES: gentileza, hospitalidade, generosidade, eficiência e compromisso com a realização com sonho de férias do nosso hóspede
Parece conversa para boi dormir, eu sei. Mas não é. É tudo verdade. Só a verdade, nua e crua, explica o que aconteceu conosco. Uma pousadinha simples e despretenciosa, em uma praia fora do circuito, com fama de hiponga e popular, atrair tanta gente legal e bacana sem qualquer megainvestimento de marketing? De onde? Como? Por que?
Foi assim desde nosso primeiro Réveillon, recheado de amigos queridos do peito e de amigos de amigos vindos do circuito Trancoso/Copacabana Palace. Foi assim com a chegada do norte-americano Johannes, que pediu um nono apartamento para uma estadia de cinco meses. Não, ainda não estávamos no Booking. Foi o SEO bem feito e a sorte que colocou nosso querido gringo frente ao link pousadaacapela.com.br.
Foi a oportunidade que nos colocou frente à possibilidade de realizar casamentos e fazer parte da história de amor de uma centena de casais. Sim, a casa tinha uma capela feito pelo senhor Osório para mostrar seu amor por dona Lúcia — sim, o nosso Taj Mahal. Percebemos que era possível celebrar depois do pedido de empréstimo da Vanessa e do Jean. A celebração foi linda e a pousada ainda nem pronta estava. Depois foi a que pediu para casar sua sobrinha aqui. Um viu, outro contou, as fotos rodaram e chegaram mais um, mais outro e temos casamentos na agenda até 2019, garantindo vida longa e estabilidade para o nosso negócio. O dinheiro é fundamental. Mais importante para o conjunto da obra, é ter ciência que celebramos o amor e mobilizamos famílias e sentimentos. Temos muita gratidão por isso. Temos muita responsabilidade também.
No verão, há cinco anos, chegaram também as primeiras crianças. Os filhos da Dani Folonni foram nossas cobaias. Gostaram e, por força do trabalho e da generosidade da mãe, a Dani, que falou de nossa pousada em seu poderoso site itmae, abriram uma portaria de brincadeiras, jogos e corre-corres. Somos, modéstia a parte, craques em bebês e criançada.
Todos os dias, lembro do João, ainda trôpego, balbuciando com suas cinco sílabas o pedido para eu ligar o ventilador. Assim como não consigo apagar da memória o lindo encontro do jovem casal paulistano com a médium mineira. Juntos, dentro de uma poça de água do mar, nas piscinas aqui na frente, acalmar a filhota pequena, que chorava intermitentemente. Como esquecer, então, do sorriso de felicidade do casal jovem, pai de dois filhos pequenos e terríveis, que experimentaram aqui, depois de quase quatro anos de casamento, o prazer de bater papo, beliscar e bebericar do jeito que os adultos fazem.
Enquanto escrevo revejo minha missão. O que publiquei acima não está errado. A síntese, no entanto, é mais clara e bem simples. Gosto de fazer os outros felizes. Como?
Com singelezas. Tipo uma cama gostosa forrada com lençol limpo. Um enfeite novo na estante branca. Um prato de comida quente e bom. Um travesseiro adequado ao pescoço. Com o empréstimo do meu buggy para levar a garotada até o projeto Tamar e aldeia hippie. Um presente para aquele amigo especial. Um papo furado no fim de tarde. Com um brinde com prosecco honesto, quando a luz acabava e ainda não tínhamos gerador. Com pequenos mimos e agrados. Com um pedido de desculpas quando pisamos na bola. Com um desejo de bom dia vindo do coração. Com uma oração para Santa Clara para fazer sol no feriado e para não chover durante o casamento. Com um bom dia e uma oferta de ajuda.
São coisas miúdas e bobas. Várias delas não são mais do que a minha obrigação. Mas cinco anos depois sei que fazem a diferença. Na minha vida principalmente. Obrigada a todos que fazem parte desses cinco anos. Que venham mais cinco.