A vida sem stress? Quem sabe no céu

quarto7e

Na semana passada, fui entrevistada para uma reportagem para a Revista Imprensa. A pauta era pertinente e triste. Jornalistas cuspidos pelo mercado que encontraram seu plano B. O feitiço do destino quis que eu, depois de anos caçando personagens, agora, virasse um. Atendi gentilmente a repórter. No meio da nossa conversa, uma pergunta fez com que eu entrasse em um túnel de reflexão.

Ela quis saber como era, depois de anos de trabalho na linha de frente no jornalismo de revista, viver sem stress?

Choquei.

Como assim viver sem stress? Todos os dias, com ou sem direito a banho de mar ou caipirinha, é um stress danado. De natureza diferente dos anos corporativos, claro, porque não tenho mais chefe ou patrão. Sou patroa, chefe e funcionária. Não tenho salário, mas pago um regiamente para doze brasileiros. Também pago imposto, taxa, conta, compras. O que sobra vira pró-labore para saldar as minhas contas, impostos e taxas. É igualzinho ao ritmo e fluxo de caixa de uma grande corporação. O que muda é a quantidade de zeros.

Para ter a felicidade de chegar a este estágio de contabilidade e até pensar em um cálculo de Ebtida (um indicador financeiro, que representa o quanto uma empresa gera de recursos através de suas atividades operacionais, sem contar impostos) a condição é ter clientes. Este é outro stress comum e compartilhado com qualquer empresa de pequeno, médio ou de absurdo porte. Explico. Quando consigo conquistá-los, o passo dois é agradá-los para que retornem e falem bem do meu negócio, indicando-o para amigos e parentes. Assim a roda gira e eu vou ter bastante trabalho, pagar muito imposto, muita conta, muita taxa e ganhar algum dinheiro.

Sou exageradamente feliz em meu negócio. Gosto do que faço. Ele vai bem. As contas fecham. Por isso e por causa disso, quero mantê-lo assim. O que significa trabalhar mais, ser mais eficiente, mais produtiva, logo, mais estressado.

Por alguma razão que atribuirei à necessidade de o ser humano ter uma fantasia permanente de felicidade e dolce vita, as pessoas acreditam que empreender é viver de papo para o ar. Se o negócio for na praia, a visão é a do empresário deitado na rede, curtindo o sol, o mar, a brisa. É muito comum, o hóspede chegar, me cumprimentar e dizer: que boa vida a sua. Apenas sorrio. Já sei que na hora de partir, ele vai dizer: “poxa, muito obrigada pela hospedagem. Vocês trabalham muito por aqui.”

Nos últimos meses, para não me tornar escrava de mim mesma, passei a ter uma disciplina férrea. Ao menos três vezes por semana, paro tudo por uma hora. Escolho o que quero fazer neste tempo. Ir à praia. Ler uma revista. Ficar de boa. Almoçar. No mais, como antes, como sempre, é só corre-corre. Não leia isso como uma reclamação. É apenas como acho que deve ser.

Dá para empreender e ser cuca fresca? Talvez. Eu nunca tentei. Pode ser que o defeito de fábrica seja meu, assim como a incompetência de fazer algo com qualidade sem dedicação total. Se alguém souber a receita, pelo-amor-de-Deus-me-conte. Seria legal me livrar do stress quando eu chegar no céu.

 

4 comentários sobre “A vida sem stress? Quem sabe no céu

  1. Claudia, por acaso encontrei seu blog e achei muito bacana! Tive o prazer de te conhecer no Camarote Contigo!, em Salvador, e de conversarmos algumas vezes sobre projetos para eventos no Espírito Santo. Quando soube de sua saída da Abril, pela Cláudia, fiquei imaginando onde uma mulher tão competente poderia estar. Agora sei que está onde faz o que te faz bem e isso é muito bom! Um dia eu chego lá! rs.. Grande abraço!

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  2. É realmente incrível Claudia. Sou empresário e entendo muito bem o que disse. As pessoas visualizam somente o glamour, os momentos de sucesso e as comemorações. São poucos os que mostram ou entendem o trabalho duro necessário para criar, manter e desenvolver um negócio. Tenha uma ótima semana com stress!

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