Um plano B que saiu do armário

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Despir a alma, vestindo o corpo. Despir o corpo para revestir a alma de prazer e felicidade.

Depois que conversei por telefone com a Theresa Rachel, essa foi a imagem que me veio à cabeça. Pouco antes de desligar o telefone, ela confessou que, recentemente, havia chorado de contente. Tinha realizado um workshop com ótimos resultados. Depois que as clientes se foram, sentou-se à beira do lago do sítio onde mora, no interior de São Paulo. Olhou em volta, olhou para si, reviu os últimos capítulos da sua reinvenção e não aguentou de emoção. “Mudei muito nos últimos quatro anos. O mais bacana é que a minha mudança tem ajudado outras mulheres a mudar também”, diz com orgulho na voz. O que ela faz? É terapeuta de guarda-roupas. Ahhh? Calma, vou contar e explicar.

Theresa tem 35 anos. É filha da geração X, que já nasceu no rabo do foguete. Filha de São Paulo, formou-se em Marketing e em 2009 mudou-se para Campinas para trabalhar. Foi funcionária de várias multinacionais. Tinha cargo bom, salário e benefícios atraentes. Tinha prestígio na família. Tinha o respeito dos amigos. Faltava satisfação. Faltava sentido. Faltava tesão. Acordava de manhã sem vontade de trabalhar. Vivia no automático. Trabalhava até tarde e se perguntava o que estava fazendo da vida.

“No final de 2011, a corda arrebentou. Decidi tirar férias do trabalho, do meu marido e da minha rotina. Me enfiei em um retiro de revisão de vida em um mosteiro no interior de São Paulo. O desafio era ficar cinco dias em absoluto silêncio. Tinha um caderno e uma caneta, onde fui escrevendo o que eu estava sentindo. Durante um exercício, uma voz falou no meu ouvido. Tive um insight. Lembrei que havia recebido um atendimento com uma personal stylist na Casa Natura em 2009 e que aquele trabalho tinha me encantado. Decidi que depois do retiro, estudaria para entender que profissão era aquela”.

Antes de continuar, preciso de parênteses. Theresa nunca teve closet de quarenta metros quadrados. Jamais colecionou sapatos Louboutin e não vende a mãe para ter a última Lady Dior. Não era ligada em moda nem em tendências fashionistas. A vontade de trabalhar com estilo pessoal tinha a ver com transformação e não com glamour nem grife.

“No segundo dia do retiro, tinha certeza que queria mudar de vida e trabalhar com o jeito de vestir das pessoas. Me inscrevi em um curso de personal stylist e comecei a vivenciar meu segundo momento de autoconhecimento e transformação. Entendi que tinha uma enorme dificuldade de me identificar com as peças do meu armário. Comecei a prestar atenção em mim, no porquê das minhas escolhas. A reflexão extrapolou meu guarda-roupa”, relembra. “Percebi que não conseguia escolher uma roupa que revelasse, de verdade, quem eu era. Se eu não sabia fazer algo tão simples, como é que eu poderia escolher o rumo da minha vida?”

A reflexão é absolutamente pertinente. A roupa é nossa fina estampa. Ela fala quem somos, o que queremos e revela se estamos bem. Theresa virou o guarda-roupa do avesso e, com ele, a própria vida. Pediu demissão, se separou do marido e trocou de casa. Recomeçou. Tinha uma reserva de dinheiro e uma enorme vontade de se descobrir. A princípio, sabia apenas o que NÃO queria. Não queria trabalhar no mundo corporativo. Não queria mais usar suas roupas certinhas, normais, de cor única. Decidiu estudar. Fez cursos de formação de consultoria de imagem. Fez cursos de inteligência emocional. Foi para Miami, nos Estados Unidos, fazer outro curso de personal stylist. Na prática, foi sendo estilista de si mesma. Foi desenhando e ajustando um novo figurino para a pessoa física e jurídica que queria ser.

“Durante o mês que passei nos Estados Unidos, aprendi muito mais do que orientar clientes na forma de se vestir. Aprendi que pessoas especiais entram em nossas vidas para aprendermos e trocarmos experiências. Foi outro momento importante de autoconhecimento”, diz Theresa, que segue estudando e se preparando para ajudar pessoas a mudar de guarda-roupa, de roupa, de corpo e de vida.

Ao retornar, estava preparada para encarar a nova profissão. Também havia descoberto uma nova Theresa. Estava repaginada. Tanto que recasou com o ex-marido, que neste processo também era “outro marido”. Foi ai que decidiu começar a atender. As primeiras clientes foram cinco amigas, que a ajudaram a criar o modelo de negócio e a chegar no conceito de que não era apenas consultora de imagem mas uma terapeuta de guarda-roupa. Qual a diferença? Theresa explica.

“A grande sacada foi quando entendi que meu trabalho não era com moda, tendências, grifes de luxo e desfiles de passarelas. O que eu fazia era ajudar pessoas. Meu desejo sempre foi trazer algo mais significativo, fazer com que minhas clientes pudessem se observar, se conhecer e se reconhecer por meio daquilo que vestem e, a partir daí, ver a vida com mais prazer, propósito, amor e beleza”, define a terapeuta de guarda-roupa, que tem no autoconhecimento a sua principal ferramenta de trabalho. “A mudança na imagem pessoal é um processo que vai muito além do vestir.”

Depois da experiência com as amigas cobaias, Theresa começou a planejar o novo ofício. Aplicou todos os seus conhecimentos de marketing para dar cara à sua empresa. Montou um site muito bonito http://www.theresarachel.com.br e eficiente. Criou um conceito e uma marca. Estabeleceu que iria trabalhar em casa, no seu sítio cercado de mata e bichos, perfeito para cursos e workshops, ou em domicílio, fazendo atendimentos individuais. Criou três módulos de atendimento de 13 a 25 horas, com preços e focos diferentes. O mais completo, batizado de máster, oferece autoconhecimento, avaliação de tipo físico, análise de coloração, maquiagem, auditoria de guarda-roupa, gerenciamento de guarda roupa, pré-shopping e personal shopping e gerenciamento de guarda-roupa pós shopping. É instigante.

Ela dá um curso intensivo por mês. Também oferece cursos em empresas e para grupos fechados. Escolheu atender apenas o gênero feminino, porque acredita elas estão abertas à mudança e têm no vestir uma linguagem muito importante. “Atendo mulheres dispostas a se reinventar. Algumas se separaram. Outras arrumaram um novo emprego. Tem também as que se tornaram mães há pouco tempo e as que fizeram severos regimes e por isso precisam mudar hábitos e, também, todo o guarda-roupa”, conta Theresa. A propósito, ela, em breve, pretende outra mudança radical: quer ser mãe.

Proprietária de uma micro-empresa, com CNPJ e inscrição estadual, Theresa está exultante. Ganha bem mais do que quando tinha crachá de uma empresa de alimentos e, principalmente, trabalha com absoluta paixão e prazer. “Acredito que cada cliente que entra na minha vida veio até mim por alguma razão. Acredito que tenho uma missão a cumprir na vida delas e que também tenho algo para aprender com elas. Em cada atendimento, planto uma sementinha de mudança que se inicia pelo guarda-roupa mas que se estende à relação delas com elas mesmas”, acrescenta. “Estou muito realizada com este meu trabalho. Valeu a pena mudar para ser feliz.”

8 comentários sobre “Um plano B que saiu do armário

  1. Bom dia, Claudia.
    Ouço muito a radio metrópole.E Um dia quando sintonizei vc estava no programa Roda Baiana. me encantei com sua História.
    Parabéns!!!
    Amo ler tudo que você posta.
    Sou sua fã
    Abraços
    Marizete

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