A experiência do escuro. De volta ao século XIX

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Ontem me exibi com uma foto linda de pôr do sol e outra mais linda de um fim de tarde com arco íris espetacular. A natureza me castigou. Não, me ensinou a não me cabar com aquilo que não me pertence.
Hoje o dia amanheceu cinza. Choveu horrores e no fim da tarde a chuva acabou com a luz. Estamos no escuro há três horas. Como no século XIX. Como na Idade Média.
A pousada está quase cheia e estamos todos experimentando ficar no escuro. Sem TV, sem Wi-Fi, sem cabo, no escuro. Quem não se conhecia se apresentou. No espaço gourmet, hóspedes de quatro apartamentos trocam histórias e impressões alumiados por uma vela. Na sala, um superpai entretém três crianças menores de 10 anos com histórias da carochinha e jogo de luzes a base de lanternas de Led.
Confesso que tenho medo de escuro. Coisas da infância que ficaram na minha alma e nenhuma terapia curou. Mas a paz das pessoas que me circundam está me acalmando e eu estou bem. A ponto de ser capaz de escrever e refletir sobre esse momento.
O mundo muda rápido. A tecnologia é avassaladora. Mas o ser humano mantém, felizmente, algumas características ancestrais. À noite, no escuro, todos se juntam e exercem a atividade mais primal e incrível do homo sapiens: a oralidade. Cada um conta sua história de vida, suas experiências, seus gostos, suas paixões de modo encantador e singelo. Fico aqui no bar ouvindo. Às vezes, palpito. É assim acredito que tudo vai dar certo. E que existe futuro.

A luz voltou às cinco da manhã. O sol ainda não.

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