“toda pálpebra é olho que se fecha; todo olho,
pálpebra que se abre – o que não vemos hoje
pode bem já estar aqui”
Lauro Henriques Júnior, poeta
Adoro esse poema do meu amigo Lauro Henriques, um homem com olhar molhado de poesia. Jamais consegui conversar com ele sem me emocionar. Sem respirar fundo para evitar a nudez das lágrimas em praça pública. Lembrei dele várias vezes hoje, porque recebi mensagens e ligações telefônicas emocionantes e extraordinárias. Fui coberta de carinho. Troquei palavras de apoio e compreensão com pessoas que jamais conheceria se não fosse o post no proejto Draf (projetodraft.com/ao-arrancarem-meu-cracha-senti-como-se-estivessem-arrancando-a-minha-pele). Gente de todos os lugares do Brasil, que viveu sensações parecidas com as minhas. Nunca imaginei que esse compartilhar fosse tão poderoso e tão benéfico. Tipo bálsamo na pele, tipo brisa em dia de calor, tipo banho de mar depois do amor. A escrita me salvou. A escrita está me conectando com um montão de gente, com histórias incríveis. Só posso escrever uma palavra: obrigada.
Palavras têm poder, garante Lauro que escreve livros lindos e best-sellers (Palavras de Poder Brasil e Mundo, editora Alaúde) com entrevistas extraordinárias com os grandes pensadores da atualidade. Na última vez em que nos encontramos em um café de São Paulo, pedi dsugestões sobre como trabalhar meu livro, como estruturar o plano B desse novo e grande projeto. Gentil e generoso, Lauro me deu um monte de dicas e uma pista. “Acho que tem uma fábula no prefácio do meu livro que tem tudo a ver com a sua história”, disse. Danado, o rapaz. Com o volume devidamente autografado, pedalei rápido para casa, doida para ler. E estava tudo lá. Não vou dessa vez descrever, mas reproduzir, mais ou menos, a fábula da vaquinha magrela que é sensacional.
“Era uma vez uma dupla de iluminados. Um mestre e um jovem aprendiz. Andavam pela floresta e à medida que a noite se aproximava, decidiram procurar abrigo. Descobriram um casebre, miserável como o da história de João e Maria, e muito envergonhados pediram ajuda. O pai, apesar de paupérrimo, era generoso. Ofereceu abrigo, bebida e comida, que nitidamente faltava na mesa deles. O mestre percebeu que eram pessoas de bem e que podiam ter um vida melhor em outro lugar. Curioso perguntou porque não partiam dali em busca de novas oportunidades. O pai respondeu que não podia. Tinha a vaquinha magrela para cuidar. Ela era fraca, velhinha, mas ainda produzia leite que alimentava a família. O que não era bebido, virava derivados como manteiga e queijo. Pouco é verdade, mas eles iam se virando. “Não posso partir para outro lugar e deixa-la pra trás”, explicou o homem.
No dia seguinte, logo após o amanhecer, a dupla partiu. Antes de pegarem a estrada, o mestre ordenou ao discípulo que jogasse a vaquinha magrela num buraco. O jovem ficou atônito. “Como assim?” “A vaca é o sustento dessa família tão gentil e generosa, que nos recebeu com tanto carinho. Não posso fazer isso!”, protestou o rapaz. O mestre, firme, repetiu a ordem. “Vá. Eu sei o que estou fazendo”. Triste, acabrunhado, revoltado mesmo, o jovem obedeceu, mas ficou de bico com o mestre por um bom par de dias. Volta e meia, lembrava-se da família e, com culpa, tentava imaginar como ela estaria sobrevivendo.
Os anos passam e o jovem feito mestre retorna àquela floresta. Meio curioso, meio envergonhado, resolve procurar a casa da vaquinha magrela para descobrir qual tinha sido o destino daquela família tão gentil, que ele supunha ter desgraçado. Quando chega, não crê naquilo que seus olhos enxergam. No lugar da choupana, um castelo. Fica arrasado imaginando que a família havia perdido tudo por causa do assassinato da vaquinha magrela. Cabisbaixo, procura alguém para perguntar de quem era a casa. Encontra-se com o homem do começo da história, que se lembra da visita dos mestres.
“Depois que vocês partiram, a nossa vaquinha magrela caiu em um buraco e morreu. No início, achei que estávamos fritos. Mas a necessidade fez que descobríssemos novos talentos e muitas habilidades. Mudamos. Abri um negócio na cidade e prosperei. Veja meus filhos, como estão fortes e repare como ficou linda a minha mulher.”
Obrigada, Lauro, por me contar a história da vaquinha magrela. Pobre bichinha.
Claudia, lindo texto. Simples e profundo. Parabéns.
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Puxa! Muito obrigada! Abraço
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Claudia, a vida é sempre uma questão de perspectiva. As vezes a gente a olha por lentes muito escuras. As vezes de um jeito muito leve. Eu aprendi que a vida é legal e que há coisas mais importantes que uma carreira. Minhas filhas tem me ensinado montes. O caminho não ortodoxo não é fácil, mas as vezes, com melhores recompensas.
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Concordo. Nos últimos tempos, procuro usar a lente azul que melhora tudo. Obrigada por sua mensagem.
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Boa tarde Claudia, através de um compartilhamento pelo linkedin de colegas, achei esse link : http://projetodraft.com/ao-arrancarem-meu-cracha-senti-como-se-estivessem-arrancando-a-minha-pele/ e então resolvi dar uma passada aqui pra ver o blog, gostei dos dois textos que li e aproveito para dizer, parabéns pela atitude e que servirá de inspiração a muitas pessoas.
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Claudia, somente hoje li o artigo no projetodraft.com. Recebi por email da minha cunhada que viu, na sua estória, um pouco da minha.
Ao contrário de você, pedi demissão de um trabalho que estava consumindo a minha alma. Desde então (2009), já passei por sérias crises existenciais. Eu estava profissionalmente tranquila. Era elogiada e havia grande chance de ser promovida. Promovida a mais trabalho, mais responsabilidades e mais hipocrisia. Minha ética estava ameaçada e eu não podia deixar isso acontecer. Pulei do barco.
Recentemente, me encontrei. Como você, escrevi um livro (que ainda está em revisão) e “inaugurei” um blog (contapontoaumentoconto.wordpress.com). Além disso, “redescobri” uma veia artística que foi abandonada no primeiro ano de faculdade, depois que um professor me convenceu que eu não tinha talento para artes e que deveria deixar Arquitetura. Hoje, eu trabalho com reciclagem – transformo plásticos em obras de arte.
Enfim, escrevo para desejar os parabéns pela sua guinada. Te desejo muito sucesso, muita felicidade e muita paz!
Abraço,
Adriana
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Adriana, obrigada por sua mensagem. Incrível a sua história. Quero conhecer o seu trabalho e o seu livro.
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Claudia, será um prazer alongar o assunto. Meu livro é um romance e pretendo lançar outros dois em continuação. Estou terminando a revisão com base no que a revisora sugeriu e pretendo publicar um ebook primeiro. Não tenho conhecimento do mercado editorial e estou receosa com esse primeiro livro.
Se você gostar da ideia, o Conta um Ponto, Aumento um Conto é um blog de cooperative storytelling. Cada autor escreve um capítulo em contos autônomos. Seria um prazer ter sua participação!
Forte abraço, Adriana
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Oi Claudia!
Li o seu texto na 5a feira (projeto draft), e gostei tanto da sua história que praticamente já li todos os seus posts aqui no blog. Acho que vc perdeu seu crachá, mas ganhou alguns fãs verdadeiros nesse meio tempo. E nós ganhamos com seus textos. Adorei tudo que li até agora, nunca passei por uma situação dessa.
Na verdade, tenho 30 anos e estou no “auge” da carreira, com crachá, mas sempre pensando num caminho alternativo, pois não acredito que o crachá tenha um final feliz, essa é a verdade.
Obrigada por nos inspirar e ser tão transparente. Abrir os sentimentos e pensamentos da forma que vc fez requer muiiiita coragem, e muuuitta humildade.
Espero sempre poder encontrar mais inspirações por aqui, vc é demais! 😉
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Nathalia, muito obrigada por sua mensagem. Fico feliz que você gostou dos meus textos. Jornalistas como eu, que não fazem hard news, escrevem para ser amados. Fico muito feliz em ter de alguma forma inspirado você no auge dos seus 30 anos. Aproveite. É uma fase maravilhosa. Todas são. grande abraço
claudia
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Cláudia,
Obrigada por estar inaugurando uma nova fase na abordagem do como se saiu de um emprego. Que ainda se possa ouvir dizer que candidatos entrevistados foram dessa forma tão corajosos, em seus relatos.
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Ah! Da vaquinha…esse texto realmente é perene. Trabalhei seu final com meus alunos do final da década de 90.
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Sim, Marciane. Ele é sensacional.
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Oie Cláudia! Li um pouco da sua história e me emocionei.
Este post sobre a vaquinha é incrivelmente interessante e sempre penso em jogar minha vaquinha no buraco. Há alguns anos ouvi esta história de uma colega que trabalhava comigo quando consolava a outra que fora demitida depois de quase 30 anos de estrema dedicação à empresa. Sempre quando fico sabendo de alguém que foi demitido ou está em uma situação de pressão ou necessidade lembro desta história e fico confortada.
Ainda sou, relativamente, jovem e estou começando na minha profissão. Tenho 34 anos e sou advogada em meu Município e pretendo seguir meus estudos rumo à Magistratura. E gostaria muito que fosse aí na sua terra, a qual amo tanto. São Paulo é um lugar de grandes oportunidades e de pessoas guerreiras como você.
PARABÉNS!!!!
Peço a Deus que seus projetos se concretizem e que vc seja ainda mais feliz e completa sem o bendito “crachá” que nos aprisiona nas tetas da vaquinha magrela.
Muito obrigada por compartilhar sua história conosco!
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Poliana, obrigada por sua mensagem. Desejo sinceramente que você realize seu sonho de magistrada em SP. Precisamos de bons profissionais aqui. Sucesso e grande abraço.
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