A superstição da cadeira de prego

Fui estagiária, frila, foca, redatora, repórter, editora assistente, repórter especial, editora, editora-chefe, diretora de redação, publisher e superintendente. Nesta escalada, é difícil não mudar de hábitos e modos. Difícil não cair em tentação. Criei um truque. Passei a chamar minha cadeira — a cadeira de quem tinha o poder — de cadeira de pregos. Era um jeito de desglamurizar cargo e colocar para mim e para os outros uma noção de real, de pé no chão.

É bom ser chefe, ganha-se mais. O chefe, às vezes, também pode tomar decisões, criar, fazer, organizar, liderar. É ruim ser chefe, trabalha-se muito mais. As pessoas se afastam porque temem o chefe. As fofocas demoram a chegar aos ouvidos poderosos e isso não é divertido. Mas o principal ponto negativo é o peso e a dor da responsabilidade, que nunca saem das suas costas. E os pregos doem na sua bunda — por isso, a imagem da cadeira.

Por que alguém aceita ser chefe? Por dinheiro, vocação e vaidade — não nessa ordem. Eu deixei a minha cadeira de pregos para trás contra a minha vontade e vou sentir falta dela. Não apenas da cadeira metafórica, mas da minha cadeira, de assento pequeno e braço duro. Ficamos juntas por 15 anos. Eu a mereci em 1999 quando troquei de revista e editora. Estava estacionada numa mesa do Olimpo aguardando uma vaga de diretora. Foi sensacional. Por superstição, nunca a troquei. Levava-a comigo para cada novo andar e nova redação.

Mesmo quando fui promovida e tinha direito a uma cadeira grande, de espaldar alto, tipo cadeira papal, preferi ficar com a minha pretinha, que dava sorte. Andamos por muitos andares. Fizemos muitos projetos. Criamos muitas amizades. Compartilhamos sucessos e fracassos. Sinto falta dela. Principalmente dela. Devia tê-la pedido no pacote. Ela ia gostar de deslizar em meu novo escritório, povoado de gatos, cachorro, criança e aspirador de pó. Eles iam escala-la e zombar de seu peso. E o Chico, que quando criança gostava de girar nela até ficar tonto, já poderia aprender a  lidar com os pregos e outros perrengues.

Mesmo quando fui promovida e tinha direito a uma cadeira grande, de espaldar alto, tipo cadeira papal, preferi ficar com a minha pretinha, que dava sorte.

5 comentários sobre “A superstição da cadeira de prego

  1. Claudia. Continue com o teu antigo Plano B(Pousada A Capela). Passamos dias maravilhosos lá no mês de abril deste ano. A recepção que você nos deu muito nos alegrou, bem como o tratamento recebido dos colaboradores da Pousada. Ficamos totalmente livres para fazer o que queríamos, desde o uso dos livros e dos vídeos até as bebidas na geladeira, nos sentimos em casa. A Pousada A Capela é linda.
    Um grande abraço da Solange e do Alberti.

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